quinta-feira, 26 de março de 2009

NINJUTSU - ORIGENS DA HISTÓRIA

Existem muitas teorias quanto às origens do que conhecemos hoje como a arte do Ninjutsu. Cada historiador japonês tem seu próprio conjunto de fatos e crenças e é muito difícil apontar com exatidão um lugar, uma pessoa, uma data ou um grupo de circunstâncias específicas que possam ser aceitas por todos como o berço da arte.

Em primeiro lugar, o Ninjutsu não nasceu como uma arte bem definida, e muitos séculos se passaram antes que o Ninjutsu fosse estabelecido como um sistema independente de conhecimento. As pessoas que foram mais tardes referidas como ninjas, não usavam originalmente essa rotulação para si próprias. Elas se consideravam meros praticantes de estratégias políticas, religiosas e militares que eram opostos culturais das visões convencionais da época. O Ninjutsu se desenvolveu como uma resposta cultural altamente ilegal contra a elite dos samurais opressores e unicamente por este motivo as origens da arte foram cercadas por séculos de mistério, reclusão e confusão histórica proposital.

Nas lendas da fundação da família imperial do Japão, passadas de boca-a-boca através das gerações antes dos primeiros registros históricos, acredita-se que dois personagens estilo Ninja ajudaram o primeiro imperador, Jimmu, a obter uma vitória decisiva. Jimmu, estava combatendo as tropas do castelo Iso, e a batalha não estava a seu favor. Uma noite, em um sonho, o futuro imperador teve uma visão na qual lhe haviam dito que conseguisse o barro do Monte Amakaga e o usasse para moldar um vaso sagrado. O Monte Amakaga era uma montanha sagrada que ficava no meio do território mantido pelas forças de Iso. Conseguir o barro cru se tornou o símbolo da intenção de Jimmu e a solução para ele obter sucesso na conquista do castelo Iso. Shinetsuhiko e Otokashi serviram ao seu senhor Jimmu se disfarçando como um camponês e sua esposa. Os dois entraram com sucesso no território inimigo, juntaram o barro e retornaram com segurança. Jimmu então fez um conjunto de prato e tigela com o barro, os ofereceu aos deuses da sorte e seguiu atrás da vitória que ele tanto acreditava ser seu destino. Dizem que as habilidades de Ninjutsu foram passadas a partir daí para Tennim Nichimei, Okume Mei, e Otomo Uji para mais desenvolvimento e expansão.Entre os documentos antigos sobre Ninjutsu que Soke Hatsumi herdou de seu mestre estão diversos pergaminhos que contam sobre ex-patriotas chineses que abandonaram sua terra natal para buscar refúgio nas ilhas do Japão. Guerreiros, estudiosos e monges chineses seguiram uma jornada atrás de uma vida nova nas matas de Ise e Kii ao sul das capitais Nara e Kyoto. Sábios taoístas como Gamon, Garyu, Kain, Unryu e generais de Tang, na China, tais como Cho Gyokko, Ikkai e Cho Busho trouxeram consigo o conhecimento que tinha sido acumulado por séculos em sua terra natal. Estratégias militares, filosofias religiosas, folclore, conceitos culturais, práticas medicinais e um largo leque de pontos de vista que misturaram a sabedoria chinesa com a da Índia, do Tibet, da Europa Oriental e do sudeste da Ásia, foram seus presentes aos recém-formados seguidores no Japão. Espalhados longe da corte do emperador na capital, os ancestrais culturais dos ninjas viviam suas vidas como naturalistas e místicos, enquanto a maior parte da sociedade se tornava cada vez mais estruturada, classificada, estilizada e, por fim, fortemente controlada.

Enquanto a tempo seguia desdobrando a história do Japão, os ninjas e seus métodos de realização, conhecidos como Ninjutsu, estiveram sempre presentes nos bastidores trabalhando sutilmente com os eventos de todas as épocas para assegurar a sobrevivência e independência de suas famílias e terras. Nas regiões de Iga e Koga, o Ninjutsu se tornou uma habilidade especial, refinada e aperfeiçoada por mais de setenta famílias, cada uma com seus próprios métodos, motivações e ideais.

Os livros de história japoneses, contudo, são curiosamente limitados quanto à cobertura e o reconhecimento das figuras sombrias conhecidas como ninjas. Até mesmo em manuais de uma geração atrás, Hattori Hanzo, o cabeça de uma das famílias ninja mais influentes em Iga e diretor dos ninjas do Shogun Ieyasu Tokugawa, era referido como um bushi (samurai) da província remota de Iga. Esta hesitação em reconhecer abertamente o papel do ninja no forjamento do Japão moderno vem possivelmente da glorificação do conceito e da ética samurai que ficaram muito populares depois da Restauração Meiji (1868). A restauração Meiji aboliu a classe samurai e deu a todos os cidadãos o direito de afetar as regalias sociais que tinham sido reservadas apenas para o samurai.

Com esse obscurecimento de eventos históricos e pessoas significantes, é difícil para os japoneses de hoje entenderem o verdadeiro objetivo e os ideais do ninja. As lendas exageradas remanescentes da era Tokugawa, na qual à polícia secreta ninja do Shogun foram dados poderes sobrenaturais, tais como a capacidade de desaparecer, andar sobre a água e ler mentes, confunde a história ainda mais. Como o mundo ficou cada vez mais interessado na cultura e posteriormente nas artes marciais do Japão, as histórias distorcidas dos ninjas encontraram novos públicos no mundo ocidental nas últimas três décadas. Mesmo as palavras para descrever a arte do místico guerreiro das sombras não podem ser traduzidas diretamente para as línguas estrangeiras ao Japão. O “nin” de ninjutsu e ninja, um som simples e único no japonês, necessita de extensas palavras ocidentais para ser explicado. Em seu nível mais elementar, “nin” (também pronunciado “shinobi”) pode significar resistência, perserverança e paciência, tanto no sentido físico quanto no mental. “Nin” tem uma segunda definição de dicionário como furto, secreto ou encobrimento. A construção do caractere escrito implica que o coração, ou a vontade, é canalizado e direcionado de modos a lhe darem a eficácia da lâmina como um instrumento de realização. Neste sentido mais amplo do conceito, “nin” realmente significa ter o controle do corpo, da mente e da percepção do certo e do errado.

É fácil, pelo menos, discutir ter o controle do corpo, e discutir responsabilidade pessoal no controle da mente e das emoções se tornou bastante popular no ocidente, mas ter o controle da percepção do certo e do errado, ou do que é apropriado, é um assunto mais difícil. ter o controle da percepção do que é apropriado é ser capaz de confiar no “sexto sentido” e ter o conhecimento funcional do nível subconsciente do pensamento. Esta percepção mais ampla da realidade estar baseada no próprio ponto de vista único é o que deixou o ninja longe dos táticos militares convencionais durante os estados em guerra e das eras feudais do Japão.

A escola Togakure, estabelecida há aproximadamente oitocentos anos, está agora em sua trigésima quarta geração. O ryu (estilo) existe hoje como uma organização dedicada a ensinar métodos eficazes de auto-proteção e promoção do auto-desenvolvimento e da consciência de seus membros. Devido à natureza estabilizada do governo japonês e dos sistemas judiciais contemporâneos, a Togakure Ninja Ryu não mais se involve diretamente em combate ou trabalho de espionagem. Antes da unificação do Japão durante o século 16, contudo, foi necessário para os ninjas de Togakure operar fora do sul da província de Iga central. No ápice do período do ninja histórico, os ninjas em operação do clã eram treinados em dezoito áreas fundamentais de perícia, começando com a “pureza psíquica” e progredindo através de uma grande variedade de habilidades físicas e mentais.

fonte: NINJUTSU - História e Tradição / Masaaki Hatsumi

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