terça-feira, 14 de abril de 2009

AS MULHERES DA GUERRA - PARTE 1

Durante muitos séculos e em muitas culturas a figura feminina foi subjugada ou diminuída por sua fragilidade e delicadeza. Mas nem sempre foi assim. Em épocas específicas na história da humanidade existiu a exaltação da força feminina não somente em religiões mágicas (causa pela qual eram naturalmente reconhecidas ou por isso perseguidas), mas nas Artes de Guerra.

No Japão, no início do período feudal, essas mulheres eram conhecidas como mulheres Samurai. Dessas mulheres era esperado: lealdade, bravura e que tomassem para si o dever de vingança. Como o seu esposo guerreiro estava freqüentemente ausente, a esposa de um samurai também possuía importantes deveres domésticos. A responsabilidade dela se estendia desde o alimento até os fornecimentos para a casa. Ela supervisionava a colheita, direcionava todos os serventes e gerenciava todos os negócios financeiros. Nas questões que tangiam ao bem-estar da família, seus conselhos eram procurados e suas opiniões respeitadas. Era entregue a elas também a tarefa de educar adequadamente suas crianças, passando-lhes o forte senso de lealdade aos ideais samurai de coragem e força física.

Nas épocas de guerras, algumas vezes elas tinham que defender suas casas. Treinadas em armas, as mulheres carregavam adagas em suas mangas e possuíam a capacidade de atirá-las mortalmente. A naginata (espécie de lança com uma lâmina curva na ponta, como uma pequena espada) - variação de alabarda chinesa, era considerada a arma mais apropriada para mulheres.

No período Nara (710-94), os forjadores japoneses haviam forjado lâminas para armas como a naginata. Isso fez com que a arma pudesse ser utilizada tanto para combate contra o inimigo em pé ou a cavalo. Nessa época a cavalaria havia se tornado mais importante do que o grupo de frente a pé, e guerreiros montados eram muito difíceis de serem derrotados pelo arco e flecha ou mesmo pela espada.

Na Guerra de Tenkei (939-41), em que exércitos compostos por homens montados se confrontaram, a naginata chegou a ser tão importante que, dispensando o arco e a flecha no combate de distâncias curtas, promoveu o suporte à utilização da espada.

O décimo primeiro século de ascensão do bushi tornou a naginata uma arma popular de guerra, porém, devido ao tamanho e ao peso, ela certamente apresentava restrições em sua utilização. Para "abrir terreno" ela era perfeita, proporcionando um resultado favorável fácil e rápido, porém em florestas ou áreas confinadas, seu uso se tornava em desvantagem e de extrema restrição.

Em registros das guerras Hõgen e Heiji (1156-60) mostram com todos os detalhes do uso da naginata, e sugere que, nessa época, já havia se tornado uma arma bem estabelecida, e não meramente de combate.

A naginata antiga consiste simplesmente de um bastão com uma lâmina longa. Um protetor para a mão foi colocado mais tarde. A naginata era normalmente empregada diretamente contra a anatomia do inimigo, e o princípio do movimento circular adquiriu a perfeição na naginata. De uma distância segura, a naginata poderia manter a espada do inimigo embainhada usando um gasto mínimo de energia.

Na Guerra Gempei (1180), quando os Taira confrontaram os Minamoto, a naginata subiu a uma posição de grande importância. Ela se tornou famosa por Benkei, o guarda-costa de Yoshitsune, um grande e forte homem, que não era incomodado por outros pela sua capacidade de luta e que era mestre na utilização da naginata, um terror para todos os homens que se opusesse a ele.

Enquanto a naginata havia figurado o treinamento das mulheres dos bushi nos tempos Heian, estava agora restrita a elas inteiramente. Para as mulheres, a naginatajutsu agiu como um contra-balanceamento em suas vidas sedentárias e, no meio do período Edo, tornou-se fascinante para as mulheres engajar homens em combates regulares utilizando protetores com os utilizados no kendo.

O Jikishin Ryu, fundado por Yamada Heizaemon Mitsumori, é um excelente exemplo do uso da naginata modificada para mulheres. Durante o Período Meiji e Taisho a naginata sofreu um grande declínio como uma arma de guerra e passou a ser apenas vital para esses ryu, que a tinham como "Do". Muitas jovens japonesas hoje dão continuidade a Naginata-jutsu aprendendo seu manuseio.

Voltando às mulheres samurai, algumas vezes, no entanto, as mulheres se uniam aos homens nas batalhas, lutando ao lado deles ou encorajando as tropas, e, como de seus maridos, era esperado delas cometerem suicídio caso a família fosse desonrada de alguma forma. Algumas utilizavam o suicídio como forma de protesto contra a injustiça, assim como em situações de maus tratos pelo marido.

Um exemplo da continuidade do poder das mulheres samurai no início do período feudal é Hojo Masa-ko. Essa forte mulher que reinou no shogunato após a morte de seu marido, o primeiro shogun Yoritomo Minamoto, morto em 1199, manobrou rapidamente sua família - clã Hojo - para a regência de seu filho Yoriie. Quando mais velha, foi ela quem reanimou o exército do shogunato que esmagou as forças do imperador Go-Toba em 1221. Os Hojo permaneceram como regentes por toda a sucessão dos shogun Minamoto por mais um século e meio. Por essa razão Hojo Masa-ko ficou conhecida como "Mãe Shogun" e se tornou referência como fundadora do shogunato.

Com o passar dos tempos a mulher independente samurai foi substituída por uma imagem que descrevesse o ideal de uma mulher: obediente, controlada e principalmente subserviente ao homem. Ser respeitosa para com o homem e para com a família e geradora de filhos homens era uma das mais importantes tarefas.

No final da era feudal, a "lei do primogênito" prevaleceu em disputas crescentes por propriedades, o que resultou no abandono dos direitos de herança sobre a propriedade à mulheres. Além disso, elas suportaram a deteriorização da posição feminina pelas doutrinas budista e confucionista, que desintegraram a intelectualidade e a capacidade moral da mulher. Após o séc XV os ensinamentos eram compostos de "Três Obediências" designadas à mulher: "Uma mulher não possui nenhum tipo de independência sobre a própria vida. Quando ainda é jovem, deve obediência ao pai; quando se casa, deve obediência ao marido; quando envelhece, obedece ao filho."

Mas não só no Japão elas podem ser encontradas. Outras histórias de mulheres guerreiras encantaram o mundo com suas lendas e mitos.

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